Vida de Trouxa...

Um dia, aos 6 anos, eu sentei na poltrona de uma plateia de um teatro, se não me engano do Clube América, para assistir a peça que o grupo do cursinho que as minhas irmãs estavam fazendo. Andrea tinha feito o cenário e Fernanda não me lembro bem se estava ou não no elenco. João, namorado da Andrea na época, hoje pai do Felipe, meu sobrinho, fazia um personagem que era um palhaço. O nome da peça era "A Floresta Encantada". Andrea estava ao meu lado na platéia. As campaínhas tocaram, as luzes apagaram. Eu fiquei com um pouco de medo, mas logo a cortina se abriu e a luz do palco foi se acendendo iluminando todo o cenário que minha irmã tinha produzido. A história começou e eu nunca mais esqueci a imagem do João, vestido de palhaço, em cima do palco, a luz iluminando-o e a magia acontecendo.
Nesse dia eu decidi: É lá que quero estar. É lá que quero viver. Eu quero poder fazer magia...
Um dia, aos vinte e poucos anos, não sei, sentada de frente para o computador, sem dinheiro, sem perspectiva de futuro profissional, eu modifiquei todo o meu currículo. Mudei objetivo e apaguei as peças teatrais em que já havia atuado. Troquei por experiências como vendedora. E enviei meu currículo para um banco de vagas na internet. Pouco tempo depois eu estava trabalhando como recepcionista. Não havia mais palco, nem luz, nem história, nem magia...
E esse foi o momento em que eu esqueci dos motivos que me levaram a fazer teatro. Foi o momento em que contou mais o dinheiro que eu não estava ganhando, os olhares cobradores dos amigos e familiares, a vida me pedindo pra crescer. Não contou o frio na barriga, nem as reflexões sobre o texto. Não contou tudo que eu poderia transmitir às pessoas, não contou o amor, nem a magia...
Hoje eu assisti "7 minutos" com Antonio Fagundes. Foi a primeira vez que assisti uma peça de teatro pela T.V. Senti falta do cheiro da platéia, das campainhas, mas mesmo assim senti a catarse e relembrei o motivo de eu ter escolhido ser atriz: A troca. Do ator pra plateia, da plateia pro ator. E o ato acontecendo, pulsando em todos ao mesmo tempo. Pura magia...
Uma vez, durante a faculdade, uma professora me disse:
_ Raquel, você é uma atriz de verdade, porque diz a verdade no palco. O verdadeiro ator não mente. O que ele mostra é exatamente aquilo que ele está sentindo.
Acho que é por isso que sinto tanta falta do palco. O lugar onde eu podia ser sem precisar fingir. É muito mais fácil dizer a verdade no palco. Lá eu posso ser esse mundo de emoções que eu tanto reprimo por aqui. Que saudade...

Postagens mais visitadas