Eu sou várias!


Minha família me conta que quando pequena (por volta dos 3 anos) eu era pirracenta, abusada e muito desobediente. O que me faltava em altura, sobrava em personalidade. Enfrentava minha mãe como ninguém e apanhei muito. Acho que é por isso que não sou muito fã de cintos hoje. Tenho apenas 5, 3 marrons, 1 bege e 1 preto. (Toda mulher acha que poderia ter mais, seja lá o que for.)
Lembro que por volta dos 10 anos eu era tão tímida que suava frio quando tinha que falar com alguém que não conhecia. Nunca entrava em lojas sozinha e falar com a vendedora era impossível. 
Aos 14 comecei a fazer teatro na escola e incrivelmente passei a transgredir minha timidez, mas apenas em alguns momentos.
Existem grupos de amigos que até hoje me consideram uma pessoa tímida, zen, calada. E pouquíssimas pessoas que conhecem um outro lado meu: agressivo, tenso e imperativo.
Creio que na casa dos meus pais, ainda sou a mesma menina maluquinha de sempre. E que meu marido seja a única pessoa a me conhecer quase por completo. Quase porque nem eu julgo me conhecer completamente.
No trabalho já fui de um jeito mais "devastador" e hoje estou no "modo observação". 
Já fui de ter muitos romances e aventuras amorosas, hoje acredito que encontrei o amor da minha vida e não pretendo mudar.
Já tive cabelos longos, médios e curtos. Já me vesti me maneira moderninha e extravagante, e hoje vivo um momento "quanto mais básico mais eu". Já quis ser atriz. Hoje estou terapeuta. Já quis ter cães, mas hoje tenho gatos. Já fui descrente, fumava e bebia até cair e tinha uma séria propensão a ser a favor da liberação das drogas. Hoje creio em tudo, inclusive em fadas, não fumo, não bebo (só pra comemorar e bem pouquinho) e sou totalmente contra a liberação das drogas e ainda tenho sérias críticas contra quem faz uso. 
Antes eu não pensava em casar, ter filhos e minha carreira era sempre primeiro lugar nas minhas preocupações. Hoje a minha maior preocupação é preparar minha vida para ter filhos. E sei que em breve eles serão minha prioridade. 
Já fui de ter muitos amigos. Hoje tenho pouquíssimos e meu melhor amigo é meu marido. Confesso que às vezes me sinto só, mas só em casa me sinto à salvo. Só com ele me sinto livre para ser. 
Tenho andado tímida e desconfiada, confesso. Minha vida social resume-se em visitar antigos amigos vez ou outra e trabalhar. Nem meus pais visito tanto, apesar de morar apenas 2 andares acima. Estou reclusa e me lembro que de tempos em tempos estive assim. Eu tenho muitos momentos crisálida. Quando olho em volta vejo um vazio tremendo, mas quando me volto pra dentro sinto uma paz imensa. 
Quem eu serei daqui pra frente? Tenho sido revisitada por todas essas tantas que já fui, e que ainda fazem parte de mim. Sei que ainda sou a criança abusada, a tímida, a maluquinha. Sei que ainda sou transgressora e sedutora. E sei que sou uma metamorfose ambulante. Mas quando me pergunto quem eu sou, a única resposta que me vem a mente é:
_ Eu sou várias.
E ainda não sei o que isso quer dizer.

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